por Dom Irineu Wilges, Bispo referencial da Pastoral da Ecologia da CNBB Sul 3
Continuando a síntese por artigos da Mensagem do Papa Bento XVI: "Se quiseres cultivar a paz, preserva a criação" (continuação 2)
(5) Também não se pode avaliar a crise ecológica sem revisão do conceito do modelo de desenvolvimento, sem refletir sobre o sentido da economia e dos seus objetivos. Exige também a saúde da terra e reclama-o sobretudo a crise cultural e moral do homem. A humanidade precisa renovação cultural, precisa descobrir os valores que lhe darão o alicerce firme para a construção de um mundo melhor. As crises econômicas também são crises morais. Há uma interligação. Elas nos impõem a viver a sobriedade e a solidariedade como novas regras. É o único modo de sair da crise atual.
(6) O mundo não é fruto de um destino cego, mas procede da vontade livre Deus, que quis fazer as criaturas participantes de seu ser, de sua sabedoria e bondade. No livro do Gênesis lemos que Deus criou tudo o que existe e colocou o homem e a mulher no mundo, criados à sua imagem e semelhança, para encher e dominar a terra como administradores, em nome do próprio Deus.
No inicio havia harmonia, mas esta foi quebrada pelo primeiro casal que se recusou a se reconhecer como criatura. Eles pretenderam ocupar o lugar de Deus. Conseqüência foi que ficou perturbada a tarefa de dominar a terra. Gerou-se um conflito entre eles e o resto da criação. O ser humano deixou-se levar pelo egoísmo e tornou-se explorador da criação, e perdeu a consciência de ser administrador em nome de Deus. Assim também se tornou inimigo e destruidor da natureza, em vez de cultivar e guardá-la(Gn. 2,15).
(7) “Deus destinou a terra e com tudo o que ela contém para o uso de todos”(Vaticano II). Mas isso não está acontecendo. Há governos que se recusam a exercer um governo responsável.
Há um ritmo de exploração da natureza que põe em perigo a disponibilidade de alguns recursos naturais para a geração atual e futura. Há projetos econômicos com conseqüências negativas para a criação e a humanidade. Compete à comunidade internacional e aos governos nacionais protegerem o meio ambiente e o clima através de normas, tendo em conta a solidariedade devida a quantos moram nas regiões mais pobres da terra e às gerações futuras.
(8) O Papa acentua a solidariedade entre as gerações. De um lado somos herdeiros das gerações passadas e beneficiários, de outro lado não podemos nos desinteressar das gerações futuras. O que fazemos hoje tem conseqüência para o futuro de todo o planeta. O Papa lembra que o direito de propriedade não deve dificultar a destinação universal dos bens. Ele também renova o apelo para a solidariedade entre os indivíduos da mesma geração. A atual crise ecológica é da responsabilidade dos países industrializados, mas os países emergentes não estão exonerados de sua responsabilidade também.
(9) Uma das principais dificuldades a enfrentar são os recursos energéticos. Para isso é necessário que as sociedades tecnologicamente avançadas diminuam as necessidades, evitando o desperdício. É preciso promover energia com menos impacto ambiental e redistribuir os recursos energéticos.
Assim a crise ecológica se torna bênção de um novo modelo global de desenvolvimento. (Continua na próxima edição).
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