segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

FSM: "As Raízes Missioneiras nas Periferias Urbanas"

As raízes missioneiras (dos Índios Guarani) nas periferias urbanas é tema de oficina no Fórum Social Mundial em Canoas.

A oficina sobre as raízes missioneiras nas periferias urbanas vai ocorrer no dia 27 de janeiro, às 18 horas, no Parque Eduardo Gomes, Galpão 1, bairro Fátima, em Canoas/RS – Brasil. O objetivo é despertar as raízes históricas nos índio-descendentes Guarani nas periferias urbanas como elemento de mobilização e organização.

O evento fundante do Povo Gaúcho não está na presença dos portugueses e espanhóis e sim na experiência cristã socialista, de vida comunitária e de autentico espírito republicano nas Missões Jesuíticas Guarani. No território que hoje se compreende o Estado do Rio Grande do Sul, haviam sete povos perfeitamente organizados numa exemplar vida coletiva, sendo um deles – São Miguel, a capital – na época equivalente ao município de São Paulo.

Um acordo entre as coroas de Espanha e Portugal, o chamado Tratado de Madrid, pretendia, de forma prepotente e autoritária, reordenar os povos e as demarcações de terra. Descontentes com o tal tratado e cientes de que isso representaria o declínio de sua sociedade, os Índios Guarani resistiram o quanto puderam. Entre eles havia o líder Sepé Tiarajú, hoje reconhecido como santo popular e oficialmente como herói riograndense e herói nacional. Sepé liderou seu povo na luta até último suspiro guarani, mas tombou em combate numa emboscada, juntamente com inúmeros outros combatentes.

Com a morte de Sepé, em 7 de fevereiro de 1756, há quase 254 anos, os Guarani que sobreviveram acabaram se espalhando e muitos passaram a conviver com outros pobres descentes portugueses e espanhóis e foi acontecendo o fenômeno da miscigenação. Por isso, hoje, muitas famílias tidas como descendência espanhola e/ou portuguesa, são na verdade também descendentes dos Guarani das Missões Jesuíticas dos Sete Povos. E estes são os pobres que sobreviveram às margens da sociedade gaúcha.

Sendo vítimas do latifúndio, os descendentes Guarani foram migrando para as periferias urbanas. No entanto, não deixou de correr nas veias o sangue indígena Guarani. E estas raízes históricas, chamadas “Raízes Missioneiras”, dos índio-descendentes Guarani, com certeza influenciaram na vida social, na organização comunitária, na participação popular e na resistência dos pobres nas periferias urbanas, como é o caso das ocupações na cidade de Canoas/RS. O que também se pode dizer de toda a região metropolitana de Porto Alegre, onde se desenvolveram muitos processos de organização e participação popular.

Hoje é de fundamental importância despertar as raízes históricas nos índio-descendentes Guarani que vivem nas periferias urbanas, como elemento de mobilização e organização. Já na década de 70, o Irmão Marista, Antônio Cechin teve esta intuição e promoveu a Romaria da Terra, que teve sua primeira edição justamente no lugar onde Sepé Tiarajú foi morto em combate, o município de São Gabriel. A Romaria da Terra surgiu como uma ferramenta mística para embalar o povo na luta. Aí vieram as ocupações de terra, as CEB’s, o MST, a CPT e toda uma caminhada de organização e luta embalada pela mística de Sepé Tiarajú e os Índios Guarani.

Não foi uma coisa imposta, mas um despertar de algo que já presente presente no sangue dos índio-descendentes Guarani, sobreviventes nas periferias. Estas raízes históricas não podem ser sufocadas. Elas devem ser resgatadas para garantir a vida e a dignidade humana. É importante também frisar a dimensão ecológica na cultura Guarani e indígena, de um modo geral. Mais do que recordar em momentos de debate e reflexão, é preciso despertar no cotidiano a herança guaranítica nas comunidades como elemento de mobilização e organização.

Em nível de organização dos movimentos sociais, Irmão Antônio Cechin foi um dos pioneiros no resgate das raízes missioneiras. Por isso, Irmão Antônio é um dos nossos convidados para refletir esta temática juntamente com o músico missioneiro, o Índio Guarani Pedro Ortaça e o teólogo Luiz Carlos Susin, do Fórum Mundial de Teologia da Libertação.

Às 18 horas, inicia a oficina e a partir das 20 horas, com a presença dos participantes do Fórum de Teologia da Libertação, acontecerá o lançamento do livro “Empoderamento popular, uma pedagogia da libertação”. Publicado pela editora ESTEF, com a colaboração do Instituto Cultural Padre Josimo, o livro traz uma coletânea de artigos, palestras, escritos de Irmão Cechin que refletem uma caminhada dos últimos 50 anos, demonstrando o empoderamento do povo que venho se organizando através de uma pedagogia libertadora.

O livro “Empoderamento popular, uma pedagogia da libertação” vem para coroar uma trilogia de publicações ocasionada pela celebração de oitenta anos de vida de Ir. Antônio Cechin.

Programação (27/01/2010):

-18:00 Horas: Oficina “As Raízes Missioneiras nas Periferias Urbanas”.

-20:00 Horas: Lançamento do livro.

Local: Parque Eduardo Gomes, Galpão 1. Bairro Fátima, Canoas/RS. O evento também terá diversas apresentações culturais, como mostra de fotos, vídeos, músicas com artistas locais e a participação especial de Pedro Ortaça.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Pastoral da Ecologia no Mutirão de Comunicação

Oficinas da Pastoral da Ecologia no Mutirão de Comunicação da América Latina e Caribe – PUC-RS – Porto Alegre (03-07/02/2010)



1ª oficina, dia 4 de fevereiro:

Bíblia, Ecologia e Espiritualidade, numa Perspectiva Pastoral.

Assessoria: Pilato Pereira e Equipe da Pastoral da Ecologia.

Participação de Professor Brak
Coordenação: Pastoral da Ecologia CNBB Sul 3.

2ª oficina, dia 5 de fevereiro:

Conhecendo o Aqüífero Guarani.

Assessoria: João Hélio Pés (UNIFRA)
Participação de Professor Eduardo Carion e Professor Francisco Milanez
Coordenação: Pastoral da Ecologia CNBB Sul 3.

3ª oficina, dia 6 de fevereiro:

A Transversalidade da Ecologia nas Igrejas e o Diálogo Intereligioso.

Assessoria: Irmão Antônio Cechin, Padre Eduardo e Equipe de Coordenação da Pastoral da Ecologia CNBB Sul 3 e outros convidados para apresentação de experiências de Igrejas e/ou Religiões.
Coordenação: Pastoral da Ecologia CNBB Sul 3.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Papa diz que "fracasso" em tratado climático arrisca paz mundial

http://noticias.ambientebrasil.com.br/noticia/?id=51128
Ambiente Brasil
O papa Bento 16, nesta segunda-feira (11), denunciou o "fracasso" do mês passado, na conferência de Copenhague, na obtenção de um novo tratado climático.De acordo com o papa, a paz mundial depende de "cuidar da criação de Deus".

Ele fez as declarações durante discurso anual a embaixadores credenciados pelo Vaticano, em ocasião voltada para destacar o que deve ser enfatizado pelo corpo diplomático desse Estado.

Bento 16 tem sido chamado de "papa verde" por frequentemente expressar preocupações sobre proteção ambiental, temática sobre a qual refletiu em suas encíclicas, viagens ao exterior, e recentemente em sua mensagem de paz anual, no 1º dia do ano.

Sob o olhar do papa, o Vaticano instalou células fotovoltaicas em seu auditório principal para converter energia solar em eletricidade e se juntou a um projeto de reflorestamento buscando cortar emissões de CO2.

Para o pontífice, é uma questão moral: a Igreja ensina que o ser humano precisa respeitar a "criação de Deus" porque ela é destinada para o benefício do futuro da humanidade.

Resistências - Deste modo, ele criticou a "resistência política e econômica" para lutar contra a degradação ambiental, exemplificada nas negociações para obter um tratado que sucedesse o Protocolo de Kyoto, de 1997.

"Confio que, durante o curso deste ano (...) será possível alcançar um acordo para efetivamente lidar com esta questão", disse Bento 16.

Ele não nomeou os países culpados por fraudar as negociações, mas ele listou como vítimas nações-ilhas que sofrem riscos com o aumento do nível do mar e a África, onde a batalha por recursos naturais, aumento da desertificação e a exploração desenfreada da terra já teriam resultado em guerras.

No entanto, o papa reiterou sua oposição às teorias que defendem o controle de natalidade como forma de combater a mudança climática. Bento 16 disse que não se deve "contrapor a salvaguarda do ambiente à da vida humana, inclusive à da vida antes do nascimento".

Ele também afirmou que o planeta "pode suficientemente nutrir todos os seus habitantes". (Fonte: Folha Online)

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

"Se Quiseres Cultivar a Paz, Preserva a Criação" (síntese parte 3)


Conversando com o Povo de Deus (469)
por Dom Irineu Wilges, Bispo referencial da Pastoral da Ecologia da CNBB Sul 3
Continuando a síntese por artigos da Mensagem do Papa Bento XVI: "Se quiseres cultivar a paz, preserva a criação" (continuação 3)


Continuando a síntese do Papa Bento XVI por artigos - 10. Para uma gestão globalmente sustentável do ambiente e dos recursos da terra, é necessário uma “nova solidariedade”, uma “solidariedade global”. Isso se torna evidente entre a forte luta contra a degradação ambiental e a promoção humana integral. É preciso encorajar a ciência a fornecer soluções satisfatórias, entre elas está à pesquisa da grande potencialidade da energia solar. Encorajá-la a desenvolver a pesquisa também sobre a questão da água. É preciso procurar estratégias de desenvolvimento rural, centrado nos pequenos cultivadores; a elaborar políticas idôneas para a gestão das florestas e o tratamento do lixo. É necessário sair da lógica do consumo para promover formas de produção que respeitem a criação e satisfaçam as necessidades de todos.


A questão ecológica deve ser enfrentada não apenas por causa das pavorosas conseqüências, mas deve ser principalmente inspirada pelos valores da caridade, da justiça e do bem comum. A técnica nunca é simplesmente técnica, assim ela se deve inserir no mandato de cultivar e guardar a terra.


11. Diante da degradação ambiental torna-se indispensável uma real mudança de mentalidade, que induz a novos estilos de vida, nos quais o verdadeiro, o belo e o bom, a comunhão com os outros determinam as opções do consumo, da poupança e do investimento. Deve-se educar para a paz a partir desta opção. Todos somos responsáveis pela produção e o cuidado da criação. É preciso que cada um se comprometa a não permitir que se imponham os interesses particulares. É preciso que a sociedade civil e as ONGs se empenham nesta sensibilização, de maneira especial a mídia, que deve propor modelos positivos. É necessário uma visão global, que deixando de lado a visão local, nacional, abraça a todos os povos. Neste contexto, alargado, é desejável que se apóie o esforço pelo desarmamento e um mundo sem armas atômicas.


12. A Igreja tem a sua parte de responsabilidade pela criação por isso sentem-se na obrigação de defender a terra, a água e o ar, dádivas do criador para todos e antes de tudo para o ser humano.Não se pode pedir aos jovens que respeitem o ambiente se não são ajudados a respeitar a si mesmos. O livro da natureza é único: ambiente e a ética. Encorajo por isso a educação para salvaguarda de uma autêntica “ecologia humana”, que afirma a inviolabilidade da família, onde se educa para o amor ao próximo e à natureza.


13. Não se pode esquecer o fato de que muitos sentem tranqüilidade e paz no contato com a beleza e a harmonia da natureza. Quando cuidamos da criação, Deus através dela cuida de nós. Uma visão correta impede absolutizá-la ou de considerá-la mais importante que a pessoa humana. A Igreja exprime perplexidade diante da concepção ecocentrista e biocentrista, que elimina a diferença ontológica e axiológica entre a pessoa humana e os outros seres vivos. A Igreja convida ao equilíbrio: o homem tem o papel de guarda e administrador da criação, sem abusar nem abdicar do mesmo. A posição contrária acaba num grave atentado à natureza e à dignidade humana.


14. “Se quiseres cultivar a paz, preserva a criação”. A busca da paz será facilitada pelo reconhecimento da relação indivisível entre Deus, os seres humanos e a criação inteira. Os Cristãos prestam a sua contribuição considerando o cosmos à luz da obra de Deus Pai e redentora de Cristo, que pela morte e ressurreição reconciliou com Deus todas as criaturas. Este concedeu à humanidade o dom de seu Espírito, que guia o caminho da história à espera do regresso glorioso de Cristo, inaugurando novos céus e nova terra, onde habitará a justiça e a paz para sempre. Assim proteger o ambiente e construir a paz é uma oportunidade de entregar às novas gerações um mundo melhor. Que os dirigentes das nações sejam cientes que a criação e a paz estão interligadas. “Por isso, convido a todos os crentes que elevem a sua oração a Deus, que seja acolhido e vivido o premente apelo: “Se quiseres cultivar a paz, preserva criação”. Mensagem do Papa Bento XVI para o dia internacional da paz e da fraternidade universal, dia 1º de janeiro de 2010, dado no Vaticano, dia 08/12/2009.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

"Se Quiseres Cultivar a Paz, Preserva a Criação" (síntese parte 2)

Conversando com o Povo de Deus (468)

por Dom Irineu Wilges, Bispo referencial da Pastoral da Ecologia da CNBB Sul 3

Continuando a síntese por artigos da Mensagem do Papa Bento XVI: "Se quiseres cultivar a paz, preserva a criação" (continuação 2)

(5) Também não se pode avaliar a crise ecológica sem revisão do conceito do modelo de desenvolvimento, sem refletir sobre o sentido da economia e dos seus objetivos. Exige também a saúde da terra e reclama-o sobretudo a crise cultural e moral do homem. A humanidade precisa renovação cultural, precisa descobrir os valores que lhe darão o alicerce firme para a construção de um mundo melhor. As crises econômicas também são crises morais. Há uma interligação. Elas nos impõem a viver a sobriedade e a solidariedade como novas regras. É o único modo de sair da crise atual.

(6) O mundo não é fruto de um destino cego, mas procede da vontade livre Deus, que quis fazer as criaturas participantes de seu ser, de sua sabedoria e bondade. No livro do Gênesis lemos que Deus criou tudo o que existe e colocou o homem e a mulher no mundo, criados à sua imagem e semelhança, para encher e dominar a terra como administradores, em nome do próprio Deus.

No inicio havia harmonia, mas esta foi quebrada pelo primeiro casal que se recusou a se reconhecer como criatura. Eles pretenderam ocupar o lugar de Deus. Conseqüência foi que ficou perturbada a tarefa de dominar a terra. Gerou-se um conflito entre eles e o resto da criação. O ser humano deixou-se levar pelo egoísmo e tornou-se explorador da criação, e perdeu a consciência de ser administrador em nome de Deus. Assim também se tornou inimigo e destruidor da natureza, em vez de cultivar e guardá-la(Gn. 2,15).

(7) “Deus destinou a terra e com tudo o que ela contém para o uso de todos”(Vaticano II). Mas isso não está acontecendo. Há governos que se recusam a exercer um governo responsável.

Há um ritmo de exploração da natureza que põe em perigo a disponibilidade de alguns recursos naturais para a geração atual e futura. Há projetos econômicos com conseqüências negativas para a criação e a humanidade. Compete à comunidade internacional e aos governos nacionais protegerem o meio ambiente e o clima através de normas, tendo em conta a solidariedade devida a quantos moram nas regiões mais pobres da terra e às gerações futuras.

(8) O Papa acentua a solidariedade entre as gerações. De um lado somos herdeiros das gerações passadas e beneficiários, de outro lado não podemos nos desinteressar das gerações futuras. O que fazemos hoje tem conseqüência para o futuro de todo o planeta. O Papa lembra que o direito de propriedade não deve dificultar a destinação universal dos bens. Ele também renova o apelo para a solidariedade entre os indivíduos da mesma geração. A atual crise ecológica é da responsabilidade dos países industrializados, mas os países emergentes não estão exonerados de sua responsabilidade também.

(9) Uma das principais dificuldades a enfrentar são os recursos energéticos. Para isso é necessário que as sociedades tecnologicamente avançadas diminuam as necessidades, evitando o desperdício. É preciso promover energia com menos impacto ambiental e redistribuir os recursos energéticos.

Assim a crise ecológica se torna bênção de um novo modelo global de desenvolvimento. (Continua na próxima edição).

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

“Se Quiseres Cultivar a Paz, Preserva a Criação”

O Papa Bento XVI escolheu como tema para o 43º Dia Mundial da Paz: “Se quiseres cultivar a paz, preserva a criação”. E o Bispo referencial da Pastoral da Ecologia da CNBB Sul 3, Dom Irineu Wilges*, fez uma síntese da mensagem do Papa em sua coluna "Conversando com o Povo de Deus", edição número 467. Leia a seguir o texto de Dom Irineu.


Conversando com o povo de Deus (467)
Se quiseres cultivar a paz, preserva a criação.


Eu estava determinado a começar a publicar os próximos “Conversandos” sobre a Visita ad Limina a Roma, realizada pelos bispos do RS e SC de 26/11 a 10/12/2009, quando recebo via correio a Mensagem do papa sobre a conexão da paz com o meio ambiente. Li o texto, que é 20 de páginas, sem interrupção e disse: “Eu vou mudar o meu projeto, Além disso, estamos ainda sob o impacto da Conferência de Copenhagen sobre o clima. Por isso, pretendo fazer uma síntese em três “Conversandos” sobre a Mensagem do Papa. Ei-la:

(1) Para este 43º Dia Mundial da Paz , dia 1º de janeiro de 2010, o Papa Bento XVI dirige a todos os homens de boa vontade uma Mensagem que tem como tema: “Se quiseres cultivar a paz, preserva a Criação”.
Escreve o Papa, o respeito pela criação é de grande importância porque a criação é o principio e fundamentos de todas as obras de Deus. E a sua salvaguarda toma-se hoje essencial para a convivência pacifica.
São numerosos os perigos que ameaçam a paz: a guerra, conflitos, terrorismo, violações dos direitos humanos mas, não menos preocupantes são os perigos que derivam do desleixo e dos abusos em relação a Criação. Por isso, é indispensável que se renove a aliança entre o ser humano e o ambiente.
(2) Na Encíclica Caritas in Veritate, diz o Papa, pus em realce que o desenvolvimento integral humano está intimamente ligado ao ambiente natural, dádiva de Deus para todos, cuja utilização comporta uma responsabilidade comum para com a humanidade inteira, especialmente os pobres e as gerações futuras.
Esta noção de responsabilidade atenua-se quando a natureza e sobretudo o ser humano é visto como simples fruto do acaso ou do determinismo evolutivo. Mas quando se vê a Criação como dádiva de Deus á humanidade a nossa responsabilidade aumenta. “Que é o homem para que dele vos ocupeis?” (Sl 8, 4-5). O sol e as estrelas então também nos falam do Criador.
(3) Há 20 anos atrás o Papa João Paulo II no dia mundial da paz dedicou a sua Mensagem ao tema: ” Paz com Deus Criador, paz com toda a criação”. Nele nos recordava: A paz mundial está ameaçada também pela falta de respeito à natureza. E acrescentava que esta consciência ecológica deve ser favorecida.
Paulo VI – em 1971 – sublinhava: por motivo de uma exploração inconsiderada da natureza o homem corre o risco de destruí-la e destruir a si mesmo.
(4)De um lado a igreja evita de intervir em soluções técnicas especificas, de outro lado ela tem a convicção da necessidade de chamar vigorosamente a atenção para relação entre o Criador , o ser humano e a criação.
Em 1990 João Paulo II falava da crise ecológica, realçando o caráter prevalecentemente ético. É necessário uma nova solidariedade. Não se pode ficar indiferente diante do fenômeno das alterações climáticas, a desertificação, a perda da produtividade de vastas áreas agrícolas, a poluição dos rios, dos lençóis de água e a perda da biodiversidade, o aumento das calamidades naturais e o desflorestamento.
Como descurar os chamados prófugos ambientais? Como não reagir diante dos conflitos por causa do acesso aos recursos naturais.
Tudo isso, tem um profundo impacto sobre o direito á vida, á alimentação, á saúde ao desenvolvimento. (Continuaremos a nossa síntese no próximo Conversando)

*Dom Frei Irineu Sílvio Wilges, da Ordem dos Frades Menores (Franciscanos), é bispo na Diocese de Cachoeira do Sul e bispo referencial da Pastoral da Ecologia na CNBB Sul 3.

sábado, 2 de janeiro de 2010

O semeador saiu a semear... Nasceu a Pastoral da Ecologia


Jesus contou muitas parábolas, mas a do Semeador (Mt 13, 1-23), talvez, seja a que ajuda a entender todas as outras. A parábola é simples e para bom entendedor, não precisaria dizer mais nada. Porém, como não somos assim tão bons entendedores, o próprio contador de parábolas trata de dar uma explicação. E Jesus nos ensina que a Semente é a Palavra de Deus, como diz o Evangelho segundo Mateus, é “a Palavra do Reino” (v.19). O ato de semear e a possibilidade ou não de germinar e crescer tem muito a ver com o tempo, com a época e as condições da natureza. Neste tempo de Aquecimento Global, a Palavra de Deus é semeada sob a face da Terra. Em situações de crise ecológica, de degradação humana e ambiental, a Palavra do Reino de Deus é semeada num tempo oportuno para germinar em forma compromisso com a preservação da Vida.

Das semeaduras do Reino brotam vida, germes de ética, responsabilidade e compromisso com a dignidade da criação de Deus. A Palavra de Deus semeada nos corações humanos, sempre foi germinando em serviços eclesiais, ações da Igreja em favor da Humanidade. Agora, portanto, germina uma planta chamada Pastoral da Ecologia. Esta plantinha, ainda frágil, se bem cuidada, vai crescer e produzir lindas flores e bons frutos. As sementes desta espécie estão se espalhando por toda parte, porque para o Semeador não existem fronteiras. Porém, nem todos os solos são suficientemente adequados para a semente germinar e crescer.

No entanto, sigamos nosso caminho sem resignação. Porque, de alguma forma, todas as sementes tem sua importância para a vida. Algumas sementes que caíram à beira do caminho servem de alimento para os pássaros. Outras que ficaram em terreno pedregoso, até chegaram a nascer e, mesmo sem crescer e sem produzir frutos, elas foram importantes para o equilibro da vida.

Também aquelas que foram sufocadas pelos espinhos tiveram a sua importância porque também mexeram com a terra. A Palavra de Deus nunca é em vão. Mesmo quando a Palavra não nos encontra como solo fértil e preparado, ela sempre promove alguma transformação em nossa vida.

Percebemos que nos últimos anos as Sementes do Reino fizeram germinar na vida da Igreja o compromisso com a salvaguarda da Criação. A Ecologia vem sendo assumida como um compromisso transversal na missão da Igreja. Ou seja, todas as pastorais, serviços e movimentos começam a se preocupar com a Ecologia. E em alguns casos também começam a desenvolver ações concretas em defesa do meio ambiente. E para fortalecer o compromisso da Igreja com a causa ecológica, é preciso uma pastoral específica de ecologia.

O Semeador saiu a semear... E nasceu a Pastoral da Ecologia. Vamos ajudá-la a crescer saudável, com a força do testemunho, do diálogo, da denúncia e do anúncio. Porque o primeiro passo da Pastoral da Ecologia é o testemunho de uma vivência ética e de responsabilidade com a defesa da vida humana e da natureza. Além do testemunho, é preciso viver e promover o diálogo com as igrejas, religiões e organizações e movimentos que também defendem a causa socioambiental – a defesa da vida. E neste tempo de desertificação, precisamos ser profetas e sempre denunciar os responsáveis pela degradação da vida. E quando denunciamos profeticamente, com a força da fé, com certeza temos uma Boa Notícia para anunciar. Denunciamos porque somos anunciadores do Reino.

Pastoral da Ecologia – CNBB Sul 3
www.pastoraldaecologia.blogspot.com

Eduardo Galeano - Mundo al Revés