sábado, 17 de dezembro de 2016

Irmão Antônio Cechin: a estrela de Belém, o lunar de Sepé

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“Alguns magos do Oriente chegaram a Jerusalém, e perguntaram: ‘Onde está o recém-nascido rei dos judeus? Nós vimos a sua estrela no Oriente, e viemos para prestar-lhe homenagem’. E a estrela, que tinham visto no Oriente, ia adiante deles, até que parou sobre o lugar onde estava o menino. Ao verem de novo a estrela, os magos ficaram radiantes de alegria. Quando entraram na casa, viram o menino com Maria, sua mãe” (Mateus 2. 2, 9-11).

Neste tempo de celebrações do Natal, muito se recorda a passagem bíblica da chamada estrela de Belém, que foi vista pelos magos no Oriente e que os conduziu ao lugar onde estava o recém-nascido, o Menino Deus, em Belém, na Judeia, conforme relata o Evangelho segundo São Mateus 2. 1-12. E aqui no Sul temos “O Lunar de Sepé”, contada na forma de verso em Contos Gauchescos, por Simões Lopes Neto. No caso da estrela de Belém, ela conduziu os magos no caminho que os levou ao Menino Jesus, considerando os devidos cuidados diante das más intenções do rei Herodes. E o lunar de Sepé foi um sinal no semblante do índio Guarani, Sepé Tiarajú, que conduzia seu povo na luta contra as “armas de Castela / que vinham do mar de além” e em defesa e preservação da terra missioneira. O lunar de Sepé para os Guarani representava um sinal da presença de Deus. Mas, para seus inimigos, como foi com Herodes, no tempo do nascimento de Jesus, era o sinal a perseguir para combater o projeto de Deus. Após a morte de Sepé, o lunar continua resplandecendo, só que agora no céu, como um sinal de luz a guiar o povo Guarani e a quem acredita e luta pela terra sem males.

Então, Sepé foi erguido
Pela mão de Deus-Senhor,
Que lhe marcara na testa
O sinal do seu penhor!
O corpo, ficou na terra...
A alma, subiu em flor!...

E, subindo para as nuvens,
Mandou aos povos benção!
Que mandava o Deus-Senhor
Por meio do seu clarão...
E o lunar na sua testa
Tomou no céu posição...

Nos tempos atuais, onde se manifesta a estrela de Belém e onde brilha o lunar de Sepé? Acredito que são a mesma fonte de luz que não podemos tocar com as mãos nem fixar sobre ela nosso olhar. Uma fonte de luz que está em muitos lugares e brilha no exemplo de vida de muitas pessoas. A estrela de Belém e o lunar de Sepé são vidas humanas que nos mostram o projeto de Deus. Pessoas que são como “o sal da terra” e “a luz do mundo” (cf. Mateus 5. 13-14).
É, pois, assim que hoje posso definir a vida de Irmão Antônio Cechin.
No lugar que Cristo lhe preparou, agora brilha como uma estrela que conduz o mundo pelos caminhos da justiça e da paz, do amor e do bem viver, na luta pela terra sem males. Sua vida é mais que uma trajetória de começo, meio e fim. É uma vida que permanece viva e impulsiona nosso viver. A história que iniciou no nascimento de uma criança, em 17 de junho de 1927, não termina com a morte de um homem aos 89 anos, no dia 16 de novembro de 2016. Irmão Antônio Cechin é uma vida que revigora nossos sonhos, fortalece nossas esperanças e resgata nossa humanidade. Portanto, continua vivo, presente.
Sua vida é uma caminhada de fé, amor e respeito aos índios, catadores, camponeses, sem-terra, desempregados e todos os pobres e a natureza. Irmão Cechin sempre será lembrado como um discípulo de Cristo que viveu o Evangelho como palavra de Deus na língua humana de todas as culturas, como presença e história de Deus na história dos povos.
E, como disse Bertolt Brecht sobre as pessoas que lutam: “Há aqueles que lutam um dia e são bons, há outros que lutam um ano e são melhores, há os que lutam muitos anos e são muito bons. Mas há os que lutam toda a vida e estes são imprescindíveis”. Irmão Antônio Cechin está entre homens e mulheres que são imprescindíveis, não somente pelo bom resultado de sua luta, mas porque sua vida impulsiona outras pessoas a seguirem lutando.
E pela analogia, que aqui procuro fazer, da vida de Antônio Cechin com a estrela de Belém e o lunar de Sepé, quero dizer que este ser humano imprescindível, nosso irmão de fé, nosso companheiro de lutas, é, sem dúvida, um facho de luz que continua a clarear nossos passos, um farol que segue a nos mostrar o caminho.

Reverendo Pilato Pereira - IEAB


Porto Alegre, 16 de dezembro de 2016,

Um mês da morte de Irmão Antônio Cechin

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