Irmão Antônio Cechin também chorou quando relatou seu encontro com o ex-presidente Lula, em que pode dizer-lhe: “Feliz é o Brasil que tem um presidente que chora sobre os catadores, a mais humilde categoria dos que constroem a nação!”. Irmão Cechin se referia ao fato de o então presidente da República ter se emocionado a tal ponto de não conter as lágrimas ao se referir aos catadores e moradores de rua, durante uma entrevista de avaliação de seu governo em 2010.
Algo semelhante aconteceu na Catedral Nacional da Santíssima Trindade, em Porto Alegre, no dia 09 de dezembro, Segundo Domingo do Advento, Dia da Bíblia, com a Sagração Episcopal do Revendo Humberto Eugenio Maiztegui Gonçalves. Eleito pelo povo e pelo clero da Diocese Meridional da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, Revendo Humberto, que é doutor em teologia bíblica, professor no SETEK e na ESTEF, foi sagrado bispo numa celebração muito animada, com forte presença ecumênica, de lideranças eclesiais da Igreja Anglicana e, sobretudo uma fervorosa participação do povo das diversas comunidades da sua Diocese.
Numa celebração como esta sempre tem os momentos de forte emoção, mas em duas situações, as lágrimas do novo bispo foram muito simbólicas. A meu ver, representaram a expressão mais intimida do seu fiel compromisso de amor a Deus e aos pobres. Ao motivar a comunidade para a saudação da paz, convidando para catar o refrão “Quando olho em você, eu vejo em você a Paz do Senhor”, o bispo Humberto chorou. E ao ouvir as palavras calmas do representante indígena, o jovem Guilherme Benitez (Verá Mirim), do Povo Mbyá Guarani, o novo bispo também não conteve as lágrimas.
Claro que tudo foi importante naquela celebração, todos os ritos, todas as falas, a pregação da Reverenda Carmem, da Diocese Anglicana da Amazônia, a valoração de comunidades historicamente excluídas (surdos, deficiência física, jovens, mulheres, índios...). Enfim, tudo foi muito importante e nos fez renovar a fé, o amor e a confiança em Deus e na comunidade. Mas, quero salientar o simbolismo que percebo nestes dois momentos relatados, em que o bispo eleito chorou: na saudação da paz e nas palavras do índio guarani.
Podemos parafrasear Irmão Antônio Cechin e dizer “feliz a Igreja que tem um bispo que chora com a saudação da paz e com as palavras de um índio”. Certamente, a paz não lhe representa apenas uma palavra, mas todo sonho e a luta pela justiça. Para o bispo que derramou suas lágrimas, a Paz do Senhor é sentida ao olhar, acolher e abraçar o próximo. E ao chorar diante das poucas e calmas palavras do índio guarani, certamente o bispo ouviu todo o clamor histórico expresso no silêncio deste povo sofrido. Na fala mansa do jovem guarani, o bispo ouviu o grito de Sepé Tiaraju que não queria morrer nem perder a terra que Deus havia dado a seu povo. E suas lágrimas expressam o que deve ser mais que um sentimento, o compromisso da Igreja para com os índios e todos os pobres, o anúncio da Boa Nova a toda a criação e o testemunho da fé no serviço em favor da justiça e da paz.
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